17 dic 2010

Pela boca morre o peixe e meter-te na boca do lobo...

Pela boca morre o peixe e meter-te na boca do lobo foram dois ditados, ou chamemos-lhes expressões, que- entre muitos que reduzem numa frase o que se diria em mil- formaram parte da minha vida de adolescente simplesmente porque gostava de os utilizar. Não só pelo significado mas também por casualidades que os foram revelando como sendo importantes.

Sem querer comparti com a minha avó um gosto pelos provérbios populares. Ela foi apontando ao longo da vida, num caderno que me recorda os da minha infância, essas expressões tão singelas que nós os portugueses conseguimos ir perdendo pouco a pouco nesta nossa última década de pseudo-modernismo, não tendo capacidade para aproveitar o tradicional e renegando-o por uma tentativa generalizada de aproximação ao que pensávamos ser uma atitude contemporânea. Já cada vez menos se utilizam essas frases tão carregadas de filosofia e que englobam tanta sabedoria em um par de palavras. Um dia comentei à minha querida mãe que gostaria e iria tentar recolher o maior número de ditados possível. Pedi-lhe que me dissesse todos aqueles que se lembrava para ver se haviam alguns que se me escapavam, por ser novo, por não me lembrar, que por uma ou outra razão fossem impossíveis de plasmar por escrito naqueles momentos. Eis que me diz: A tua avó há já algum tempo que faz o mesmo! Escreveu todos aqueles que se lembrava e pergunta às amigas se sabem alguns que já não se usam! De vez em quando lá vai metendo mais um! Porra, eu que adoro coincidências, eis uma que não estava à espera... Ainda para mais vindo de alguém tão próxima. Enfim, a base de dados que a minha avó tinha compilado naquele caderno era realmente extensa. Tanta coisa em desuso pelo passar do tempo. Tanta coisa saloia. Tanta sabedoria do campo. E eu que pensava que conhecia muitos...

Pela boca morre o peixe e meter-te na boca do lobo... Há uns dias falava com a Li sobre ditados espanhóis e a estranha relação histórica que alguns têm com os portugueses, sejam eles uma pura tradução ou que de qualquer outro modo acabem por significar o mesmo.

Pela boca morre o peixe e meter-te na boca do lobo... As coincidências não acabam nunca, basta que se as busque, e, num bar, numa noite que juntou a ambos os provérbios assim como a nós os dois, reatámos.

Pela boca morre o peixe e meter-te na boca do lobo... No Bar Peixe Gordo falámos de coisas que me levam ao Bar Boca do Lobo. Meter-te na Boca do Lobo... Aquilo que falámos no Peixe Gordo, a sinceridade que se atingiu, leva a pensar no porquê da falta de sinceridade projectada pela Boca do Lobo como ideia e princípio. Tudo é uma espiral quando se quer vê-lo como tal e eu não quero dar música nem a peixes nem a lobos. Não sou nem Santo António orando para peixes nem um DJ dando música num covil de lobos.

Ti.
À LUZ DA SOMBRA...
A LUZ DA SOMBRA porque certos momentos escuros da vida podem revelar-te coisas positivas...
A LUZ DÁ SOMBRA porque a luz pode dar uma vida de sombra, de repente, sem que te apercebas...
À LUZ DA SOMBRA porque te habituas à monotonia daquilo que parece perfeito, acomodando-te ao que se esculpiu como ideal, sem avançar, mesmo que te pareça que vais de caminho a alguma parte...
À LUZ DA SOMBRA porque simplesmente a sombra não dá luz...
Há luz, há sombra... porque há branco e negro... porque há toda uma escala de cinzentos... Porque ninguém é igual e poucos somos simples! Porque os nossos, os que queremos, aqueles que gostamos e os que aprendemos a gostar, não foram nem nunca serão simples...

28 oct 2010

Sem um porquê definido

Quando me passou pela cabeça a ideia de escrever outra vez tentei resgatar à memória textos do passado e esboços de um ou dois livros que nunca viram a palavra FIM impressa na última página.
Quase de repente dei por mim a ter consciência de que o impulso de voltar a escrever tinha mais a ver com um  desejo de vomitar em forma de escrita tudo aquilo que me estava a acontecer numa das épocas mais conturbadas da minha vida. Apercebi-me então que tinha vontade de falar comigo. Até há poucos dias nunca tinha sentido uma necessidade tão brutalmente avassaladora de escrever em algo parecido com um diário. Não, eu nunca tive um diário... Sempre achei interessante a ideia de ter um confidente imaterial ao qual se pode dizer tudo sem suspeita de crítica ou fuga de informação, mas, se sou sincero comigo mesmo, sei que sobretudo o que mais me fascina nessa concepção é o poder reler e analisar tudo aquilo que foi escrito e dito a esse confidente... As aulas que se podem receber desse mesmo confidente... Porque esse professor fala a língua do nosso Eu mais sincero. Essa é uma das razões pelas quais sempre respeitei quem tem um diário. Poderia dizer invejei mas não me lembro de alguma vez ter sentido inveja. Respeito sim, até porque não me lembro de querer ler um diário de qualquer das pessoas que sabia terem um.
Assim nasce À luz da sombra, T fala com T, T guarda coisas para T mais tarde recordar... Dou gargalhadas internas ao pensar que há informação disponível e ao mesmo tempo invisível.
Troco a pena pelo teclado e a tinta pelo ecrã. Afirmação básica, já sei!
Uma certa pessoa disse-me há pouco tempo que sou só "branco e negro". Por acaso, essa mesma pessoa é daquelas poucas a quem reconheço uma enorme capacidade crítico-analítica no que toca a mim, a nós e ao mundo em geral. Por acaso essa pessoa- a quem tenho que agradecer por isto um dia- fez despoletar o desejo explosivo de voltar a escrever com luz; e assim este blog terá também reflexos da minha velha paixão foto-escrita, da minha outra vida, do meu passado, com uma câmera como companheira re-encontrada. Por acaso essa pessoa- a quem volto a dirigir um obrigado- com todas as suas capacidades, esqueceu-se de olhar com atenção e ver que eu não sou, nem nunca fui, feito apenas de brancos e negros mas sim de muitas escalas de cinzento.
Tenho uma mania desde miúdo que é nunca reler algo que acabo de escrever à procura de erros e buscando ver se poderia dizer de outro modo. Sempre me pareceu que reler e corrigir é uma mutilação a um corpo com vida própria e que sai à força do ventre. Resisto agora por saber que vai ficar plasmado no principio da página e porque uma primeira entrada deveria ser cuidada. Por outro lado desleixo-me lânguidamente por saber que sou velho demais para mudar tudo e que sempre haverá velhos hábitos que dão gozo manter... Se faço click sai uma foto; não vou andar a perder tempo no Photoshop a aperfeiçoar aquele momento... Se houvesse um Photoshop para a nossa vida...

Com o intuito de viver a dois,
Vivi menos que meia vida,
Não vivi sempre a minha
E vivi por quem não a merecia.

Onde tive certezas teve dúvidas,
Onde vi futuro viu final,
Andava tão cego que não via,
Que para ela já tudo era mau.

Qualquer alma errante que entre um dia sem querer terá que desculpar-me a sinceridade: BAZA! A tua ausência é a minha alegria ;)